29 de setembro de 2012

Primeira entrevistada: Carol Barcellos, do Globo Esporte


Carol Barcellos estreia o Papo de Repórter com o tema A Arte de Entevistar



O primeiro post do PAPO DE REPÓRTER traz uma jornalista jovem, linda e já bem sucedida profissionalmente. Estou falando de Carol Barcellos. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Ana Carolina Barcellos Côrtes hoje é repórter esportiva da TV Globo. A carioca simpática e descontraída começou como estagiária do canal SporTV e agora já completa oito anos de trabalho na Globo.

Fiz o primeiro contato com Carol em uma palestra ocorrida na minha faculdade, em que ela participou da mesa na qual ex-estudantes da UFF falariam sobre suas experiências jornalísticas. No evento, batemos um papo e aproveitei para pegar o contato dela, que de cara já topou me dar a entrevista. A partir daí, marcamos tudo através de e-mail, Twitter e celular, com ela sempre muito solícita. Encontram-nos em um dos prédios da Rede Globo no Jardim Botânico (RJ) e a entrevista seguiu de forma tranquila e não muito demorada.

Gravando em Monte Serrat (SP)
Carol Barcellos em Mont Serrat - Santos, SP (Foto: Marcus Cabaleiro)
Aqui, Carol Barcellos fala um pouco sobre a arte de entrevistar e dá dicas para os futuros jornalistas. Para ela, o importante é ter muitas informações sobre o entrevistado, formular perguntas cujas respostas não sejam óbvias e fazer a entrevista parecer menos um encontro profissional e mais uma conversa descontraída.

Carol confessa que já teve vergonha de fazer perguntas em coletivas, mas que hoje não vê porque se intimidar. “Se há uma dúvida e aquilo faz diferença para o meu trabalho, eu pergunto”, diz. A repórter esclarece ainda o que diferencia a entrevista esportiva das demais e o que fazer para não ficar nervoso na hora do ‘bate-papo’ com o entrevistado. Quer saber mais? Confira a entrevista completa!



GISELE PALMA - Como é a preparação para uma entrevista?

CAROL BARCELLOS - O primeiro passo é conhecer bem quem você vai entrevistar, pesquisar sobre essa pessoa. Além disso, sempre tem um motivo para você estar entrevistando alguém. Então, preparar-se para uma entrevista nada mais é do que focar bastante no motivo que está te levando àquela pessoa e analisar qual é a melhor forma de conseguir com que ela fale o que você deseja saber.

            É importante conhecer melhor o entrevistado pois assim é mais fácil saber de que jeito você deve abordá-lo e conduzir a entrevista. Joel Santana (ex-técnico do Bahia), por exemplo, dá ótimas respostas, mas costuma se esquivar das perguntas. Às vezes ele fala tanto que acaba te envolvendo com a resposta. Não é difícil que o repórter perca o objetivo da entrevista ao longo da fala de Joel. Então, retomo o que falei no início: é preciso estar muito firme, ter em mente o que você quer saber, e tentar não deixar o entrevistado te enrolar.

Você costuma usar alguma técnica nas suas entrevistas?

Repórter do Globo Esporte
          Tem uma que não chega a ser uma técnica, mas é uma forma de não chegar assustando nem criar antipatia, principalmente quando o assunto é polêmico. Se a entrevista é gravada e há tempo livre para falar de outras coisas, eu prefiro começar tratando de assuntos leves e deixar a parte complicada para o final, porque eu sei que provavelmente o entrevistado não estará à vontade nem com muita vontade de falar sobre aquilo. Não custa nada tentar diminuir a tensão da entrevista e só entrar em questões delicadas quando você sentir que é o momento ideal.

Além do instante certo, é importante pensar em como você vai perguntar. Tem que ser de uma forma que o entrevistado não possa te responder ‘sim’ ou ‘não’. Se ele falar ‘sim’, é porque você já deu uma resposta na sua pergunta. Se falar ‘não’, é porque você também fez uma afirmativa, e não uma pergunta, então ele só está discordando. E aí não te acrescenta nada. Você deve fazer uma pergunta que a pessoa realmente tenha que pensar para te responder e que não tenham respostas óbvias. Em casos de desastres e assuntos ligados mais ao sentimental, por exemplo, perguntas como “Você está sofrendo muito?” chegam a ser um desrespeito. É nesse momento que você identifica um bom entrevistador.  

Tem algum jornalista em quem você se baseie para fazer as suas entrevistas?

            Tem muita gente que eu admiro, mas ‘basear’ é complicado, porque eu tenho um jeito, que é meu. Então não adianta eu tentar entrevistar como ele ou ela entrevista, porque eu não vou conseguir. Cada pessoa tem um jeito de falar, de perguntar. Inclusive, ser fiel à forma como você fala e ser natural é uma maneira de passar confiança e credibilidade para o entrevistado.

            Mas tem pessoas que são muito boas em entrevistas. No esporte, eu admiro a Glenda Kozlowski. Ela consegue boas entrevistas e realmente senta e conversa com as pessoas. Do geral, tem a Ana Paula Araújo. Ela consegue fazer as perguntas certas na hora certa. Em todas as tragédias pelas quais o Rio passou, ela fez uma cobertura sensacional. E, claro, a Fátima Bernardes, que é muito boa entrevistadora e ótima jornalista.

Três jornalistas admiradas por Carol Barcellos
Glenda Kozlowski, Ana Paula Araújo e Fátima Bernardes (Foto: Divulgação)

O que você faz caso esteja ao vivo e, por nervosismo ou algum outro motivo, esqueça qual é a próxima pergunta?

            Isso nunca aconteceu comigo. Tem gente que gosta de fazer ao vivo com algumas perguntas anotadas. Em vez de ficar com um papel na mão, eu prefiro confiar na minha cabeça, que felizmente ainda não me traiu.

            Em relação ao nervosismo, se você sabe sobre o que você vai falar e tem as informações sobre o entrevistado, por mais que ele seja uma pessoa importante, não há motivos para o nervosismo. Você só está no seu papel, na verdade. É o seu trabalho. Você está tirando dúvidas que você é obrigado a tirar. Então, para ficar segura e não acontecer coisas como esquecer as perguntas, eu procuro conhecer o entrevistado e saber exatamente o que eu preciso ‘arrancar’ dele.

Qual a principal diferença entre a entrevista esportiva e as das demais áreas, como política e economia?

            Vou começar com um exemplo. Se eu vou fazer uma entrevista com um jogador do Botafogo, tenho que estar muito preocupada em responder às questões do torcedor do Botafogo. Se a entrevista é com um político, normalmente a preocupação é a de responder às questões de uma cidade ou até de um país. A entrevista da área da política, portanto, é mais complexa, mais complicada. Até mesmo as situações das entrevistas são mais difíceis nesse caso, porque geralmente tem mais gente, mais repórteres, mais confusão. 

            A diferença é esta: no esporte, a entrevista pode ser mais solta, mais leve, bem mais tranquila; na política, normalmente não. Quem faz política, polícia ou economia entrevista pessoas mais sérias, mais sisudas. Então não dá para o repórter ficar de gracinha. Já no esporte, dependendo da situação, dá para fazer uma brincadeira. A entrevista é muito mais descontraída do que nas outras áreas.

Comparando as suas entrevistas atuais com as do seu início de carreira, quais erros você acha que cometia, mas que hoje em dia já consegue evitar?

Repórter visita crianças que treinam Luta Olímpica
Carol Barcellos grava matéria sobre luta olímpica (Foto: CBLA)

            Eu acho que um bom entrevistador não deve ficar satisfeito enquanto a pessoa não responder exatamente o que ele quer saber. No início da minha carreira, talvez por medo ou insegurança, eu fazia uma pergunta e me satisfazia com qualquer resposta razoável. E às vezes a pessoa só estava me enrolando, não tinha respondido o que eu queria. Hoje eu tenho consciência de que não há vergonha nenhuma em reformular a pergunta e pedir para o entrevistado esclarecer a sua fala, caso ele tenha sido evasivo.

Em situações de coletiva, o repórter não tem que se preocupar com o que os outros vão achar dele, se aquela é uma boa pergunta ou não. Se há uma dúvida e se existe uma questão ali, é preciso esclarecer, mesmo que não seja uma pergunta 'genial'. Acho também que o ideal é que a pergunta seja curta e objetiva.

No começo, eu ficava com vergonha de falar em alguns momentos, quando estava em coletivas de futebol, porque sempre tinha um monte de marmanjo. Hoje em dia, eu sinceramente não tenho vergonha, afinal eu estou ali trabalhando. Se eu preciso perguntar e aquilo faz diferença para o meu trabalho, eu pergunto.

Você se considera uma boa entrevistadora?

Técnico do Botafogo é entrevistado por Carol Barcellos
Carol Barcellos entrevista Oswaldo de Oliveira, técnico do Botafogo (Foto: Divulgação)

            Eu acho que ao vivo, sim. Ao vivo normalmente a entrevista é curta e as questões são mais objetivas. Eu fico mais segura e me sinto à vontade. Para as entrevistas mais longas, acho que ainda falta muito para eu me considerar boa. Principalmente quando entra a parte sentimental, porque eu não sei se eu tenho muita sensibilidade na hora da entrevista. Sensibilidade eu acho que não é meu forte.

Entrevistar realmente é uma arte?

            Com certeza! É uma arte e é difícil. Se você analisar, tem jornalista que é muito bom, mas que não é bom entrevistador. Ou o contrário: uma pessoa pode ser um ótimo entrevistador, mas não fazer boas matérias. Entrevistar é uma arte, sem dúvidas. 

Vamos supor que tem um jogador que você conhece e sabe que ele raramente fala coisas interessantes. Chega um certo dia e algum repórter consegue tirar uma coisa boa dele. Então onde está o erro? Se uma pessoa conseguiu fazer uma boa entrevista com ele, por que os outros não conseguem? Será que aquele jogador não rende ou será que quem está entrevistando não consegue fazê-lo render? Ou seja, é uma arte. E, para saber fazê-la bem, é necessário muito estudo e preparação. Quem tem facilidade para envolver as pessoas tem mais um ponto a seu favor.

Carol sempre com um sorriso no rosto
Carol Barcellos trabalhando em cobertura esportiva (Foto: Divulgação)
Você tem alguma dica para os futuros jornalista ou para aqueles que acabaram de entrar no mercado de trabalho, em relação à entrevista?

            Tem que estar muito preparado e, durante a entrevista, tentar envolver a pessoa de alguma forma que ela não fique tensa. Fazer com que a entrevista seja menos formal e pareça mais com uma conversa é um grande passo para se obter respostas melhores. Se o entrevistado fica à vontade e percebe que você está preparado, ele será mais sincero e você conseguirá sonoras muito mais interessantes e com muito mais conteúdo.

Mas há outras situações. Em uma coletiva, por exemplo, com 30 jornalistas, cada um fazendo uma pergunta, é preciso definir qual é a questão principal para você. Faça a sua pergunta e garanta a resposta essencial para o seu trabalho, porque talvez você não tenha a oportunidade de falar de novo, já que tem várias pessoas ali. Por outro lado, se a entrevista é gravada e você tem mais tempo, há a possibilidade de, em algum momento, você começar a envolver o entrevistado e entrar em assuntos sobre os quais ele normalmente não fala.

É importante fazer com que a entrevista pareça um bate-papo, não para a pessoa esquecer que aquilo é uma entrevista, mas para ela ficar relaxada, afinal o entrevistado fica tenso também. E a televisão ainda tem um agravante: a câmera. Então é um desafio conseguir descontrair. Mas, se você conseguir, certamente vai ter uma boa entrevista.

E aí, o que você achou? Deixe o seu comentário com sugestões e críticas. Até a próxima!

Confira também uma reportagem de Carol Barcellos.





7 comentários:

  1. Manuela (Anchieta)29/09/2012, 16:22

    Parabéns pela entrevista e sucesso no blog Gi! Não se sinta insegura, foque no seu projeto que você vai longe!
    Beijos, mil!
    P.s.: Já adicionei o seu blog no meu leitor de feeds, vou acompanhar sempre!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Manu! Que bom que você gostou!
      Fico muito feliz com o seu voto de sucesso e te desejo tudo isso em dobro.
      Muitíssimo obrigada pelo apoio!
      Isso, acompanhe mesmo. Vou procurar mantê-lo sempre atualizado e interessante!

      Beijo enorme!

      Excluir
  2. Izabela Sousa29/09/2012, 16:37

    Gi, muito bacana a sua postagem e não só para os estudantes de jornalismo. É legal que você esteja aproveitando as oportunidades que o Rio te dá, pra já começar um trabalho interessante. Espero que o blog te renda boas experiências e vou continuar acompanhando.

    Sempre me intrigou essa questão da entrevista, porque não basta só formular boas perguntas; como a própria Carol disse, é preciso envolver o entrevistado e em certos ambientes fica muito difícil ganhar a confiança de alguém, ou simplesmente tê-lo disposto. É uma atividade bastante subjetiva e, por envolver não só ideias, mas também sentimentos, acaba se tornando uma arte mesmo!

    Minha sugestão é só que você, se for muito perfeccionista, revise melhor o texto, de maneira a evitar que certos errinhos de digitação, até comuns em blogs, passem. Ah, o texto ficou bem dividido, a cada parágrafo uma ideia nova, o que favoreceu bastante a leitura! Beijos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Adorei o seu comentário, mostra que comecei no caminho certo.
      O objetivo é este mesmo que você falou: interessar a todos, e não somente pessoas ligadas ao jornalismo.
      Entrevistar é muito mais complexo do que se imagina, por isso pensei que quanto mais cedo eu começar a vivenciar a rotina de um repórter, mais bem preparada estarei no futuro.
      Ah, e eu sou super master perfeccionista. Corrijo cada texto umas cinco vezes depois de prontos. Garanto que erros de português dificilmente você encontrará por aqui. Haha
      Por favor, comente sempre que quiser. Vou ler suas palavras com muita atenção!
      Beijo!

      Excluir
  3. Gi, parabéns, adorei a ideia do blog! Tem tudo pra bombar!! Sucesso!

    ResponderExcluir
  4. Obrigaada!
    Estou fazendo de tudo para ele bombar!
    Beijo!

    PS: Quem é? haha

    ResponderExcluir
  5. Carol eu a admiro muito, muito mais muito mesmo, sou apaixonado por esporte e você além de ser repórter esportiva é uma Atleta Show que se empenha na missão e a cumpre muitíssimo bem. E é uma excelente profissional meus PARABÉNS. Carol Barcelos um fortíssimo abraço PARABÉNS.

    ResponderExcluir