Carol Barcellos estreia o Papo de Repórter com o tema A Arte de Entevistar
O primeiro post do PAPO DE REPÓRTER traz uma jornalista
jovem, linda e já bem sucedida profissionalmente. Estou falando de Carol
Barcellos. Formada em Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense
(UFF), Ana Carolina Barcellos Côrtes hoje é repórter esportiva
da TV Globo. A carioca simpática e descontraída começou como
estagiária do canal SporTV e agora já completa oito anos de trabalho na Globo.
Fiz o primeiro contato com Carol
em uma palestra ocorrida na minha faculdade, em que ela participou da mesa na
qual ex-estudantes da UFF falariam sobre suas experiências jornalísticas. No
evento, batemos um papo e aproveitei para pegar o contato dela, que de cara já
topou me dar a entrevista. A partir daí, marcamos tudo através de e-mail,
Twitter e celular, com ela sempre muito solícita. Encontram-nos em um dos
prédios da Rede Globo no Jardim Botânico (RJ) e a entrevista seguiu de forma
tranquila e não muito demorada.
Carol Barcellos em Mont Serrat - Santos, SP (Foto: Marcus Cabaleiro)
|
Aqui, Carol Barcellos fala um pouco sobre a arte de entrevistar e dá dicas para os futuros jornalistas.
Para ela, o importante é ter muitas informações sobre o entrevistado, formular
perguntas cujas respostas não sejam óbvias e fazer a entrevista parecer menos
um encontro profissional e mais uma conversa descontraída.
Carol
confessa que já teve vergonha de fazer perguntas em coletivas, mas que hoje não
vê porque se intimidar. “Se há uma dúvida e aquilo faz diferença para o meu
trabalho, eu pergunto”, diz. A repórter esclarece ainda o
que diferencia a entrevista esportiva das demais e o que fazer para não ficar
nervoso na hora do ‘bate-papo’ com o entrevistado. Quer saber mais? Confira a entrevista completa!
GISELE PALMA - Como é a preparação para uma
entrevista?
CAROL BARCELLOS - O primeiro passo é conhecer bem quem
você vai entrevistar, pesquisar sobre essa pessoa. Além disso, sempre tem um
motivo para você estar entrevistando alguém. Então, preparar-se para uma
entrevista nada mais é do que focar bastante no motivo que está te levando
àquela pessoa e analisar qual é a melhor forma de conseguir com que ela fale o
que você deseja saber.
É importante conhecer melhor o
entrevistado pois assim é mais fácil saber de que jeito você deve abordá-lo e
conduzir a entrevista. Joel Santana (ex-técnico do Bahia), por exemplo, dá ótimas
respostas, mas costuma se esquivar das perguntas. Às vezes ele fala tanto que
acaba te envolvendo com a resposta. Não é difícil que o repórter perca o
objetivo da entrevista ao longo da fala de Joel. Então, retomo o que falei no
início: é preciso estar muito firme, ter em mente o que você quer saber, e tentar não
deixar o entrevistado te enrolar.
Você costuma usar alguma técnica
nas suas entrevistas?
Tem uma que não chega a ser uma
técnica, mas é uma forma de não chegar assustando nem criar antipatia,
principalmente quando o assunto é polêmico. Se a entrevista é gravada e há
tempo livre para falar de outras coisas, eu prefiro começar tratando de
assuntos leves e deixar a parte complicada para o final, porque eu sei que
provavelmente o entrevistado não estará à vontade nem com muita vontade de
falar sobre aquilo. Não custa nada tentar diminuir a tensão da entrevista e só
entrar em questões delicadas quando você sentir que é o momento ideal.
Além
do instante certo, é importante pensar em como você vai perguntar. Tem que ser
de uma forma que o entrevistado não possa te responder ‘sim’ ou ‘não’. Se ele
falar ‘sim’, é porque você já deu uma resposta na sua pergunta. Se falar ‘não’,
é porque você também fez uma afirmativa, e não uma pergunta, então ele só está
discordando. E aí não te acrescenta nada. Você deve fazer uma pergunta que a
pessoa realmente tenha que pensar para te responder e que não tenham respostas
óbvias. Em casos de desastres e assuntos ligados mais ao sentimental, por
exemplo, perguntas como “Você está sofrendo muito?” chegam a ser um desrespeito. É nesse momento que você identifica um bom entrevistador.
Tem algum jornalista em quem
você se baseie para fazer as suas entrevistas?
Tem muita gente que eu admiro, mas
‘basear’ é complicado, porque eu tenho um jeito, que é meu. Então não adianta
eu tentar entrevistar como ele ou ela entrevista, porque eu não vou conseguir.
Cada pessoa tem um jeito de falar, de perguntar. Inclusive, ser fiel à forma
como você fala e ser natural é uma maneira de passar confiança e credibilidade
para o entrevistado.
Mas tem pessoas que são muito boas
em entrevistas. No esporte, eu admiro a Glenda Kozlowski. Ela consegue boas
entrevistas e realmente senta e conversa com as pessoas. Do geral, tem a Ana Paula Araújo. Ela consegue fazer as perguntas certas na hora certa. Em
todas as tragédias pelas quais o Rio passou, ela fez uma cobertura sensacional.
E, claro, a Fátima Bernardes, que é muito boa entrevistadora e ótima
jornalista.
Glenda Kozlowski, Ana Paula Araújo e Fátima Bernardes (Foto: Divulgação) |
O que você faz caso esteja ao
vivo e, por nervosismo ou algum outro motivo, esqueça qual é a próxima pergunta?
Isso nunca aconteceu comigo. Tem
gente que gosta de fazer ao vivo com algumas perguntas anotadas. Em vez de
ficar com um papel na mão, eu prefiro confiar na minha cabeça, que felizmente ainda
não me traiu.
Em relação ao nervosismo, se você
sabe sobre o que você vai falar e tem as informações sobre o entrevistado, por
mais que ele seja uma pessoa importante, não há motivos para o nervosismo. Você
só está no seu papel, na verdade. É o seu trabalho. Você está tirando dúvidas
que você é obrigado a tirar. Então, para ficar segura e não acontecer coisas
como esquecer as perguntas, eu procuro conhecer o entrevistado e saber
exatamente o que eu preciso ‘arrancar’ dele.
Qual a principal diferença entre a
entrevista esportiva e as das demais áreas, como política e economia?
Vou começar com um exemplo. Se eu
vou fazer uma entrevista com um jogador do Botafogo, tenho que estar muito
preocupada em responder às questões do torcedor do Botafogo. Se a entrevista é
com um político, normalmente a preocupação é a de responder às questões de uma
cidade ou até de um país. A entrevista da área da política, portanto, é mais
complexa, mais complicada. Até mesmo as situações das entrevistas são mais
difíceis nesse caso, porque geralmente tem mais gente, mais repórteres, mais
confusão.
A diferença é esta: no esporte, a entrevista pode ser mais solta,
mais leve, bem mais tranquila; na política, normalmente não. Quem faz política,
polícia ou economia entrevista pessoas mais sérias, mais sisudas. Então não dá
para o repórter ficar de gracinha. Já no esporte, dependendo da situação, dá
para fazer uma brincadeira. A entrevista é muito mais descontraída do que nas
outras áreas.
Comparando as suas entrevistas
atuais com as do seu início de carreira, quais erros você acha que cometia, mas
que hoje em dia já consegue evitar?
Carol Barcellos grava matéria sobre luta olímpica (Foto: CBLA) |
Eu acho que um bom entrevistador não
deve ficar satisfeito enquanto a pessoa não responder exatamente o que ele quer
saber. No início da minha carreira, talvez por medo ou insegurança, eu fazia
uma pergunta e me satisfazia com qualquer resposta razoável. E às vezes a pessoa
só estava me enrolando, não tinha respondido o que eu queria. Hoje eu tenho
consciência de que não há vergonha nenhuma em reformular a pergunta e pedir
para o entrevistado esclarecer a sua fala, caso ele tenha sido evasivo.
Em
situações de coletiva, o repórter não tem que se preocupar com o que os outros
vão achar dele, se aquela é uma boa pergunta ou não. Se há uma dúvida e se
existe uma questão ali, é preciso esclarecer, mesmo que não seja uma pergunta 'genial'. Acho também que o ideal é que a pergunta seja curta e objetiva.
No
começo, eu ficava com vergonha de falar em alguns momentos, quando estava em
coletivas de futebol, porque sempre tinha um monte de marmanjo. Hoje em dia, eu
sinceramente não tenho vergonha, afinal eu estou ali trabalhando. Se eu preciso
perguntar e aquilo faz diferença para o meu trabalho, eu pergunto.
Você se considera uma boa
entrevistadora?
Carol Barcellos entrevista Oswaldo de Oliveira, técnico do Botafogo (Foto: Divulgação) |
Eu acho que ao vivo, sim. Ao vivo normalmente a entrevista é curta e as questões são mais objetivas. Eu fico mais
segura e me sinto à vontade. Para as entrevistas mais longas, acho que ainda
falta muito para eu me considerar boa. Principalmente quando entra a parte
sentimental, porque eu não sei se eu tenho muita sensibilidade na hora da
entrevista. Sensibilidade eu acho que não é meu forte.
Entrevistar realmente é uma
arte?
Com certeza! É uma arte e é difícil. Se você analisar, tem jornalista
que é muito bom, mas que não é bom entrevistador. Ou o contrário: uma pessoa
pode ser um ótimo entrevistador, mas não fazer boas matérias. Entrevistar é uma
arte, sem dúvidas.
Vamos supor que tem um jogador que você
conhece e sabe que ele raramente fala coisas interessantes. Chega um certo dia
e algum repórter consegue tirar uma coisa boa dele. Então onde está o erro? Se
uma pessoa conseguiu fazer uma boa entrevista com ele, por que os outros não
conseguem? Será que aquele jogador não rende ou será que quem está
entrevistando não consegue fazê-lo render? Ou seja, é uma arte. E, para saber
fazê-la bem, é necessário muito estudo e preparação. Quem tem facilidade para
envolver as pessoas tem mais um ponto a seu favor.
Carol Barcellos trabalhando em cobertura esportiva (Foto: Divulgação) |
Você tem alguma dica para os
futuros jornalista ou para aqueles que acabaram de entrar no mercado de
trabalho, em relação à entrevista?
Tem que estar muito preparado e,
durante a entrevista, tentar envolver a pessoa de alguma forma que ela não
fique tensa. Fazer com que a entrevista seja menos formal e pareça mais com uma conversa é um grande passo para se obter respostas melhores. Se o
entrevistado fica à vontade e percebe que você está preparado, ele será mais
sincero e você conseguirá sonoras muito mais interessantes e com muito mais
conteúdo.
Mas
há outras situações. Em uma coletiva, por exemplo, com 30 jornalistas, cada um
fazendo uma pergunta, é preciso definir qual é a questão principal para você.
Faça a sua pergunta e garanta a resposta essencial para o seu trabalho, porque
talvez você não tenha a oportunidade de falar de novo, já que tem várias
pessoas ali. Por outro lado, se a entrevista é gravada e você tem mais tempo,
há a possibilidade de, em algum momento, você começar a envolver o entrevistado
e entrar em assuntos sobre os quais ele normalmente não fala.
É
importante fazer com que a entrevista pareça um bate-papo, não para a pessoa
esquecer que aquilo é uma entrevista, mas para ela ficar relaxada, afinal o entrevistado
fica tenso também. E a televisão ainda tem um agravante: a câmera. Então é um desafio
conseguir descontrair. Mas, se você conseguir, certamente
vai ter uma boa entrevista.
E aí, o que você achou? Deixe o seu comentário com sugestões e críticas. Até a próxima!
E aí, o que você achou? Deixe o seu comentário com sugestões e críticas. Até a próxima!
Confira também uma reportagem de Carol Barcellos.
Parabéns pela entrevista e sucesso no blog Gi! Não se sinta insegura, foque no seu projeto que você vai longe!
ResponderExcluirBeijos, mil!
P.s.: Já adicionei o seu blog no meu leitor de feeds, vou acompanhar sempre!
Manu! Que bom que você gostou!
ExcluirFico muito feliz com o seu voto de sucesso e te desejo tudo isso em dobro.
Muitíssimo obrigada pelo apoio!
Isso, acompanhe mesmo. Vou procurar mantê-lo sempre atualizado e interessante!
Beijo enorme!
Gi, muito bacana a sua postagem e não só para os estudantes de jornalismo. É legal que você esteja aproveitando as oportunidades que o Rio te dá, pra já começar um trabalho interessante. Espero que o blog te renda boas experiências e vou continuar acompanhando.
ResponderExcluirSempre me intrigou essa questão da entrevista, porque não basta só formular boas perguntas; como a própria Carol disse, é preciso envolver o entrevistado e em certos ambientes fica muito difícil ganhar a confiança de alguém, ou simplesmente tê-lo disposto. É uma atividade bastante subjetiva e, por envolver não só ideias, mas também sentimentos, acaba se tornando uma arte mesmo!
Minha sugestão é só que você, se for muito perfeccionista, revise melhor o texto, de maneira a evitar que certos errinhos de digitação, até comuns em blogs, passem. Ah, o texto ficou bem dividido, a cada parágrafo uma ideia nova, o que favoreceu bastante a leitura! Beijos.
Adorei o seu comentário, mostra que comecei no caminho certo.
ExcluirO objetivo é este mesmo que você falou: interessar a todos, e não somente pessoas ligadas ao jornalismo.
Entrevistar é muito mais complexo do que se imagina, por isso pensei que quanto mais cedo eu começar a vivenciar a rotina de um repórter, mais bem preparada estarei no futuro.
Ah, e eu sou super master perfeccionista. Corrijo cada texto umas cinco vezes depois de prontos. Garanto que erros de português dificilmente você encontrará por aqui. Haha
Por favor, comente sempre que quiser. Vou ler suas palavras com muita atenção!
Beijo!
Gi, parabéns, adorei a ideia do blog! Tem tudo pra bombar!! Sucesso!
ResponderExcluirObrigaada!
ResponderExcluirEstou fazendo de tudo para ele bombar!
Beijo!
PS: Quem é? haha
Carol eu a admiro muito, muito mais muito mesmo, sou apaixonado por esporte e você além de ser repórter esportiva é uma Atleta Show que se empenha na missão e a cumpre muitíssimo bem. E é uma excelente profissional meus PARABÉNS. Carol Barcelos um fortíssimo abraço PARABÉNS.
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